Efeitos psicológicos da utopia covarde Viver em um mundo onde você é por definição um perdedor traz alguns desdobramentos perturbadores. Por mais que uma crença exalte a fraqueza ninguém gosta de ser derrotado. Este ressentimento faz com que eles projetam seus sonhos para o futuro longínquo ou para uma realidade depois da morte. Nascem então escatologias mirabolantes onde finalmente o inimigo será derrotado e todas as suas medíocres vidas são finalmente justificadas.

Neste final feliz, imaginam que todos ao seu redor entrarão finalmente em acordo, as utopias religiosas por exemplo sugerem que haverá então apenas uma religião (a sua é claro) e tudo finalmente funcionará como eles sempre quiseram. Todos serão por fim felizes quando acabar a batalha com o grande inimigo. Mas não há felicidade sem inimigos. Mesmo entre estes que não sabem aproveitar um bom adversário, este postulado é verdadeiro. A partir do momento em que este oponente fosse vencido suas vidas perderiam o significado.

Não haveria ninguém em quem colocar a culpa. Ninguém em quem descontar suas frustrações. Nenhuma barreira entre eles e seus mundos ideais. Bastaria dar um passo para provarem que estão certos e este é um passo pesado demais para a maioria das pessoas. Todos estão sempre prontos a serem reis, exceto quando a coroa está ao alcance das mãos. A própria ideia de utopia deixa isto claro, a palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, “não” e τόπος, “lugar”, portanto, o “não-lugar” ou “lugar que não existe”. Não importa o quanto você espere, se esforce, lute ou se sacrifique, se existe uma chance daquele seu ideal se materializar, ele deixa de ser utópico.

Fonte: Filosofia Satânica – Morbitvs Vividvs

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