“Todos querem fazer parte do Clube do Diabo, mas são poucos que realmente fazem parte”
-Reverendo Obito

O primeiro passo, quando o Diabo resolve seduzir alguém, é através da dúvida. E conseqüentemente a Emancipação do Eu. É ai que os chifres começam a crescer e que as legiões lideradas pela Raiva e Revolta, começam a possuir o futuro adepto. O Satanismo começa sendo uma religião, uma proposta de libertação, onde a indulgência é a lei. Muitos acabam por levar Crowley deturpadamente, e esquecem que a Thelema e o Satanismo, crescem apenas no mesmo solo – porém as arvores são diferentes, e seus frutos também. Hoje em dia o Satanismo, é levado como uma visão carnal, material da vida em si. Isso é a apenas uma parte da religião satânica em si. Uma parte, a Gehenna, para onde vão todos os ‘bons vivants’, revoltados, céticos e materialistas. Ali eles ficam nas garras de Lilith, nas chamas da lúxuria.

Nem todo mundo desce mais um pouco no Inferno.

Bom esse processo de anarquia, de pregar aos quatro ventos seu ceticismo, ou sua possessão demoníaca, ainda é parte de um processo maior, que poucos deixam ir. Eles usam a figura de Herói injustiçado pela Igreja, e esquece que em partes, e quase todas elas, nós também temos uma parcela de culpa nisso. E nos orgulhamos disso. É ali que o jovem satanista descobre o prazer em ser o Demônio encarnado. Ele não precisa mais de Baphomet, nem de roupas pretas, nem de atacar a sociedade. Agora a sociedade deixa de ser inimigo do diabo, pra ser seu tabuleiro. E cada um que conhecer, cada um com quem tem contato, é uma peça.

O Herói injustiçado deixa de ter valor, já que não vale a pena lutar por uma revolução satânica. Vai descer quem quer. O Satanista toma a consciência do valor do egoísmo, e começa a agir por uma causa ainda maior – sua felicidade terrena. É agora que ele vê o valor social, o quanto a figura de bom moço vai ajudá-lo, o quão tola, é a primeira massa que fica em Gehenna, pregando sexo livre, símbolos do Baphomet, e fazer o que quiser.

Ele entende que a liberdade é uma prisão domiciliar.

Daí em diante o Satanista, começa a entender o treinamento fornecido por Anton Szandor LaVey; seus pecados e mandamentos, começam a forjar o filho do fogo. Ele começa a querer mais, e entende o porquê de quatro príncipes no Inferno.

Satã é a revolta inicial, Lúcifer se torna o Egoísmo e seu auto-aperfeiçoamento. E Belial, o integra no mundo terreno, o faz procurar mais sobre o comportamento humano, a psicologia humana, o como usar e até abusar de cada animal humano que ele encontra, através do que ele chama de magia menor. Seu charme, encanto, ele começa a aprimorar seu próprio ser, começa a buscar uma influencia maior sobre a terra que vive, e as pessoas que caminha. Ele se torna um manipulador, afinal, quem é o diabo se não o acusador, sedutor e destruidor ?

Leviatan sai do Abismo assim que o Satanista percebe que há meios ainda melhores de lidar com o âmbito social. Ele descobre que existe dentro dele, uma energia, chamada de chi, ki, energia vital, Força Vital, Mana, prana, energia bioeletrica, que pode ser direcionada para fins pessoais. É aí que ele descobre a Magia. Ele entende que essa energia se amplifica no corpo humano através da emoção, e procura trabalhar um lado emocional dentro de um ritual, para que essa energia se encaminhe ao seu propósito. Não há nada de espiritual, ali; a carne é energia, a energia está em tudo e pode ser direcionada.

Vendo que sua maior arma é o comum, ele trata de se disfarçar em meio à multidão. Nunca será igual, porém, não será tão fácil distingui-lo do meio. Ele quer isso, ele precisa disso. A sociedade sempre será contraditória, e por mais que alguns valores cristãos caiam, outros se manterão. E Não há nada de errado nisso, pois são eles que mantêm a sociedade burra. O Diabo foi o melhor amigo da Igreja, porem a Igreja sempre retribuiu para aqueles que realmente o cultuam, afinal ela mesmo era um pilar do Satanismo. Deixa que, sempre vai existir os satanistas revoltados contra Jesus, e isto, é vantajoso – eles fazem a propaganda que nós não precisamos fazer. Eles popularizam o que nós mantemos conosco. Eles trazem novos adeptos, que podem tanto se manter no circulo deles, como ir mais fundo no inferno.

E nós estamos tão fundo no abismo, que não escutamos os barulhos da sua beirada.

Por Diego Shugara